sexta-feira, 13 de maio de 2011

MATERNIDADE; MATERNAGEM; IDENTIDADE ESPIRITUAL - BOLETIM - 08.05.2011

“Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti.” 2Tm 1.5.

A psicanálise, quando estuda os significados do cuidado materno, principalmente relacionado a crianças pequenas, ou seja, de recém-nascidos ao final da primeira infância, distingue a maternidade, que é o processo biológico de tornar-se mãe, caracterizado pelo laço sanguíneo que une a mãe ao filho, de maternagem, que não tem como suporte a condição biológica, e nem mesmo o gênero, mas que está amparado no afeto e no profundo desejo de cuidar. A maternidade é uma condição física, nem sempre uma opção, mas a maternagem é sempre uma escolha, mesmo que posterior, uma decisão de dedicação por amor.

A ciência anuncia algo que a bíblia afirma há muito tempo: “ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv. 22.6). Na verdade, esse ensinar é maternagem, ou seja, o cuidado que forma o caráter da criança, contribuindo para a formação do self do bebê e para a construção de sua identidade.

Maternagem não se dá apenas no plano do cuidado físico, mas também espiritual. Na realidade, a criança já precisa ser cuidada desde o ventre, aprendendo a reconhecer a voz amorosa da mãe-cuidadora, de forma a construir elos espirituais, afinal, se o bebê ouve do ventre sons externos, e a fé é gerada pelo ouvir (Rm. 10.17), inicia-se nessa época uma espécie de semeadura.

Invariavelmente, como no julgamento da árvore, que se dá pela qualidade do fruto, a eficiência da maternagem será verificada pela vida, comportamento e legado do filho, e mais uma vez a bíblia nos dá exemplos preciosos, como o de Ana, para quem a maternidade fora um milagre e que a comprometeu com o seu filho Samuel, cuidando-o durante toda a primeira infância, para, no momento oportuno, conforme seu voto, entregá-lo ao Senhor, tornando-se ele o maior juiz de Israel (ISm).

Mas o exemplo mais marcante é o de Maria, que cuidou do menino Jesus, mesmo com todas as dificuldades de um parto numa estrebaria (Lc. 2.7), um período de fuga pelo deserto (Mt. 2.13-15), dedicou-se a sua formação intelectual e moral, de forma a ele espantar os doutores da Lei, reconhecendo-se que “crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc. 2. 47, 52).

A maternagem não está associada apenas ao gênero feminino e à maternidade, tampouco o cuidado restrito às crianças sob o aspecto biológico. O cuidado está associado ao amor, devendo também ser aplicado à filiação espiritual. Sim, precisamos gerar filhos (evangelizar-ganhar), porém, tão importante quanto gerar é cuidar-discipular.

O amor, que se manifesta na pedagogia do cuidado, forma a identidade espiritual daquele que, como Timóteo, pelo testemunho de fé de sua mãe e de sua avó, sedimentou a sua própria, tornando-se exemplo para muitos (1Ts. 3.2). Comprometa-se com o discipulado, permitindo-se ser cuidado e aprendendo a cuidar.

Deus abençoe sua semana.

Pr. Wolney

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